Um preconceito de ter preconceito

23/11/2015 06:30

 

Silvana Meirielle Cardoso | Graduanda em História pela Universidade Metodista de Piracicaba

 
 

Pensarmos na existência de uma noção de raça nos direciona automaticamente a existência da noção de diferença entre os homens que sempre esteve presente na história dos povos, de acordo com Lilia Schwarcz, o século 19 é um momento crucial para a formalização das diferenças, quando a característica miscigenada de nossa população foi vista como um espetáculo, a presente autora nos convida a refletir sobre a especificidade do racismo existente no Brasil.

O reconhecimento da existência do racismo é importante não só pela consciência existencial desse problema, mais também para pensarmos nas especificidades desse ‘’ racismo cordial’’, dessa modalidade mais especifica de relacionamento racial conhecida na oportuna expressão de Florestan Fernandes, como um preconceito retroativo “um preconceito de ter preconceito’’. (Schwarcz, 2001.p.11).

Desde os anos de 1870, as teorias raciais foram amplamente adotadas no Brasil, de modo especial, há uma insistência para a tradução de autores darwinistas sociais confirmando assim que o cenário miscigenado era visto de forma preocupante pela intelectualidade que ao contrário do projeto ideológico e romântico do império passa a destacar os “perigos da miscigenação’’.

De acordo com Lilia Schwarcz essa intelectualidade entendia a questão nacional a partir da raça e do indivíduo, Sendo que o Brasil caracterizado por sua miscigenação estava fadado ao fracasso, tal imaginário foi reforçado ainda mais por alguns viajantes que em sua maioria possuíam um olhar carregado de valores morais, científicos que acabaria por cristalizar a imagem não só dos brasileiros mais dos demais povos americanos como ineficazes e incapazes de serem civilizados, dentre esses viajantes Lilia cita Agassiz que concluí em seu relato: “qualquer um que divide dos males da mistura de raças, e inclua por mal entendida a filantropia ,a botar abaixo todas as barreiras que a separam, venham ao Brasil” (Schwarcz, 2001.p.23).

A imigração em massa suscitou uma solução pouco plausível para o problema, em suma acabou reforçando a totalidade de um projeto de branqueamento da população desvalorizando e transformando o nativo em um estrangeiro em sua própria terra de acordo com as observações de Marcia Naxara.

O dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, se coloca como um monumento de memória, que suscita questões caras a sociedade que nem sempre considera o outro, muito menos leva em consideração a herança colonial, que negros e índios sofreram durante um período que não foi pouco, é uma data convidativa para reflexão e diálogo. Afinal as questões coloniais ainda se fazem presente com outras “roupagens”, em uma sociedade que procura por vezes mais excluir do que incluir, mais impor do que ouvir.