Paixão de Cristo encerra temporada em Piracicaba e reune 12 mil pessoas

28/03/2016 19:17

A 27ª Paixão de Cristo de Piracicaba (SP) encerrou a temporada de apresentações neste domingo (27), no Engenho Central, principal ponto turístico do município. “Apesar do realismo da época de Jesus Cristo, nossa tentativa foi aproximar cada vez mais a montagem ao nosso momento atual e creio que a plateia percebeu a intenção em algumas cenas”, explicou Raul Rozados, que dirige a peça pelo segundo ano consecutivo, e já interpretou por dez anos o personagem Pôncio Pilatos.

Além do enredo que surpreendeu os 12 mil espectadores durante nove dias, o cenário também recebeu elogios do público, segundo Rozados. Projetado por Cyro del Nero, já falecido , e Marcos Thadeus, os cenários foram montados por Pádua Soares, Claudemir Souza Calaça, Luis Gustavo dos Santos Ferreira e Diego Benittes. “É um processo de 40 dias trabalhando. Cuidamos da montagem para que não falte nada”, contou Soares, que se aventura como ator no espetáculo há mais de 25 anos. “É um aprendizado. Cada noite é uma noite de emoções ao ter o retorno do público”, disse.

Aprendizado compartilhado pelos atores Enzo Gandin e Isabele de Lima, que atuam no espetáculo pelo segundo e terceiro ano, respectivamente. “A experiência é grande. Trabalhamos em conjunto que no final falamos ‘missão comprida, mais um dia que conseguimos”, disse Gandin.

Mesmo morando no Distrito de Tupi, Isabele contou que a distância até o local da apresentação não foi dificuldade. “Tinha que sair bem antes da minha casa para chegar a tempo, mesmo assim, fiz por gosto e, ainda por cima, tornamos uma grande família”, afirmou.

A reportagem apurou que um ônibus cedido pela prefeitura levou os atores do Terminal Central de Integração até o local do espetáculo. No final da apresentação, o processo ocorre o inverso, com as passagens pagas pela associação.

Protagonistas

No papel dos protagonistas, o ator piracicabano Fábio Malosso interpretou Jesus, pelo quarto ano consecutivo. “Este ano fiz um Cristo renovado e intenso”, disse. “Cada ano aprendo mais com o personagem, a história traz veracidade no que faço”, ressaltou.

Já Maria, mãe do personagem principal, foi interpretada pela primeira vez por Tiara Silva. “É muita emoção, não tenho palavras para descrever. Faço teatro há cinco anos, e ver o público me emociona, mas sinto que posso fazer melhor”, contou.

54 anos de Paixão

A paixão pela Paixão de Cristo não é de hoje na vida da aposentada Faraídes Costa Silva. Ao longo de seus 71 anos, 54 foram dedicados ao espetáculo. Ela contou que a atuação começou aos 17 anos na capital paulista e 22 em Piracicaba. “Interpretei o povo e é muito gostoso. Uma sensação muito boa”, salientou.

E o gosto pelo espetáculo foi passado de geração. “Minha filha mora comigo e participa. Como este ano como ela teve o segundo filho, não atuou, mas trouxe comigo meu neto de quatro anos”. Durante a entrevista, Matheus Felipe Nunes, que vestia um figurino marrom, corria por todos os lados dos bastidores.

Cenas

Considerada uma das maiores apresentações da vida de Jesus Cristo no país, o espetáculo ocorre em um espaço de oito mil metros quadrados permite mais realismo nas 42 cenas. A Paixão de Cristo foi composta por cerca de 500 integrantes, entre atores e equipe de produção, além de 20 cavalos em cena.

Um fato que chamou a atenção do público e da reportagem na montagem encenada na segunda-feira (21) foi o momento em que o personagem de Fábio Malosso diz “Pai entrego-lhe a alma” e um pássaro branco voou sobre o cenário, para o catolicismo, a ave representa o Espírito Santo.

A utilização de recursos como carruagens, soldados e artistas circenses, juntos à dramatização da trilha sonora remeteram o espectador à época vivida por Jesus Cristo. Segundo o ator e presidente da associação, João Scarpa, a pior crise econômica a qual vive o país motivou os baixos recursos financeiros repassados pelos patrocinadores. “Tivemos que fazer cortes, mas a necessidade cria a novidade. E o Raul foi bem certeiro, tem propriedade de direção”, salientou Scarpa. Sobre as apresentações, ele pontuou que a recepção do público foi “calorosa, aplaudindo a encenação em vários momentos”. “Fico orgulhoso profissionalmente e pessoalmente, pois disseminamos o amor e o respeito. Temos mecanismos para levar essas duas ferramentas”, finalizou.

 

Reportagem: Reinaldo Diniz/ME

Foto: Reinaldo Diniz/ME