Piracicaba encerra maratona de música erudita com 2.500 pessoas

25/07/2016 16:04

Após uma semana intensa de programação artística e pedagógica, o 7º Feimep (Festival Internacional de Música Erudita de Piracicaba (SP)) terminou neste final de semana. O evento foi realizado pela Prefeitura de Piracicaba, por meio da Semac (Secretaria Municipal da Ação Cultural).

Entre os dias 17 e 23, cerca de 2.500 pessoas acompanhou uma maratona de música clássica no Teatro Erotídes de Campos e na Escola de Música de Piracicaba Maestro Ernst Mahle (Empem), com apresentações de orquestras e grupos de câmara. O número foi divulgado pela organização, na tarde desta segunda-feira (25).

“Houve uma troca de energia e de conhecimento entre alunos e professores, e professores com professores. Trabalhar com educação é saber que não se ensina o tempo todo, mas que se aprende muito mais. Foi uma semana incrível”, avaliou o diretor artístico e pedagógico André Micheletti.

Conforme a secretária municipal da Ação Cultural, Rosângela Camolese, o Feimep teve um formato dedicado os jovens. “Não tem valor que se pague ao disponibilizar à eles políticas públicas eficazes de dar oportunidade de conviver durante uma semana com grandes mestres. Principalmente nesse momento de crise, Piracicaba deu o exemplo de que é possível juntar forças com o Poder Público para alavancar cada vez mais um evento como este”, salientou Rosângela.

Atrações - O grupo Brassampa foi uma das atrações que subiu ao palco do teatro, localizado no Engenho Central. Formado por cinco instrumentos que pertence à família dos metais, o grupo se destaca pela alta qualidade técnica e pela interpretação de obras escritas especificamente para a formação ou até arranjos de MPB e internacional.

“O público presente transpareceu encantado com as músicas, talvez por terem a oportunidade de assistir a uma apresentação com um timbre diferenciado, no caso, os metais”, disse o trompetista do quinteto, Michel Machado. Mas ele confessa que a apresentação poderia ser melhor. “Creio que poderia haver maior divulgação para um melhor comparecimento de público”, afirmou Machado.

A violoncelista coreana Christy Choi, 13, dividiu o mesmo espaço com o grupo Fukuda Cello Ensemble. “Eu senti como se a multidão era muito grande, e muitas pessoas torceram por nós no final do concerto. O teatro não é grande, mas foi um lugar muito agradável para tocar”, disse Christy.

Na Empem, ela se apresentou ao lado da cantora mirim Bebé Salvego, 12. Na ocasião ela teve a oportunidade de tocar o Jazz pela primeira vez “O público foi menor, mas gostaram da apresentação. Que noite! Eu não sabia nada sobre este gênero, mas tocar com ela criei um novo estilo. Bebé é uma jovem muito talentosa, foi uma grande experiência para minha carreira, portanto, tentei algo novo e divertido”, salientou a instrumentista.

Masterclasses - Além das atrações culturais, o Feimep também teve espaço para as programações pedagógicas, com masterclasses de violino, violoncelo e contrabaixo, ministradas por 11 professores do Brasil, Estados Unidos, Canadá e Suíça. Confira fotos no perfil oficial da ME.

A organização explicou que o Feimep teve como proposta “democratizar a música clássica, tanto para o público, quanto para os alunos de todos os níveis de conhecimento, do básico ao avançado”. Para esta edição, as aulas reuniram 177 alunos de 53 municípios brasileiros.

No sábado (23), último dia do Festival, a emoção tomou conta da estudante Claudiane Santiago Araújo, 15, moradora de Conceição de Coité, município do interior da Bahia, com cerca de 70 mil habitantes.

“Foi muito difícil, porque fizemos rifas, vendemos brigadeiros, Caruru, que é uma comida típica da Bahia, para arrecadar dinheiro e participar do Feimep. Nossa ideia era vir de avião, mas como não tivemos essa oportunidade, viemos de van. A viagem durou dois dias, mas foi divertida, ficamos ansiosos”, contou ela, acompanhada por mais 13 amigos.

“Foi uma semana ótima, aprendi muitas coisas com os professores e foi um prazer participar. Vou levar o aprendizado para toda a vida”, disse a estudante de violoncelo.

Moradores de São Lúis (MA), Saulo Rodrigues dos Santos, 27, e Ezio Arthur Monteiro Cutrin, 16, relataram que a participação de um evento fora do estado natal é a melhor solução para quem tem o interesse em ingressar na música clássica. “Infelizmente falta incentivo nesta área. Muito difícil que um professor de alto nível participe de algum evento no Maranhão. O último ocorreu em 2014”, disse Cutrin. “Nesse atual momento, a única opção é deixar o estado para que se possa investir na música clássica”, completou Santos. Ambos tiveram aulas de violino com os brasileiros Daniel Guedes e Alessandro Bergomanero.

Na quinta-feira (21), a reportagem da Matéria Emplacada passou uma tarde com os alunos durante as aulas na Empem, e encontrou duas alunas que afinavam um violoncelo por aplicativo no celular. “Nunca participei deste Festival, fiquei sabendo pelas amigas. Como não sabia como funcionava não trouxe material, apenas participei como ouvinte”, disse Lais Cherete, 17, moradora de Jundiaí (SP), acompanhada de Thalia Santana, 18. “Vim buscar conhecimento para aprimorar minha relação com as músicas. Com certeza são professores que acrescentam qualidades. Eles facilitam o nosso aprendizado”, disse a violoncelista.

O Festival também contou com o 2º Encontro com Jovens Regentes, workshops de luteria e com o curso sobre o Método Dalcroze. Para esta edição, o responsável pelas aulas foi o brasileiro radicado na Suíça, Iramar Rodrigues, que também exerce o cargo de vice-diretor da Federação Internacional de Professores de Rítmica, que agrega 22 países.

O método foi criado no início do século 20 pelo músico e pedagogo austro-suíço Émile Henri Jaques Dalcroze (1865-1950), que segundo Rodrigues, foi um dos grandes revolucionários da pedagogia musical, que é atualmente utilizada na preparação da formação dos músicos e das pessoas que utilizam a arte do gesto na sua profissão.

“Tive o grande prazer e alegria de trabalhar durante a semana com 40 professores e com um grupo de crianças. Os resultados foram excelentes. Volto para Genebra com boas lembranças e, sobretudo, com o interesse de todos em poder descobrir a música através de vivencias sensorial e corporal”, comentou Rodrigues.

As masterclasses também foram ministradas pelos brasileiros Anselmo Melosi e Sérgio de Oliveira (contrabaixo), Alexandre Razera (viola) e Jamil Maluf (2º Encontro de Jovens Regentes). Do exterior participam as violoncelistas Minna Chung, da Universidade de Manitoba, no Canadá, Helga Winold, da Universidade do Sul, na Flórida e da Indiana University, além dos luthiers Mitsugu Gomikawa e Henrike Hahn, de Chicago.

 

Reportagem: Reinaldo Diniz/ME

Foto: Reinaldo Diniz/ME